Por Douglas Dutra
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O incêndio que começou na última quinta-feira tem feito com que uma fumaça tome conta da Pelotas nos últimos dias, levando a uma onda de reclamações pela população. Segundo o Corpo de Bombeiros, as chamas que atingiram as margens do canal São Gonçalo, próximo ao quilômetro 61 da BR-392, começaram em uma fogueira mal apagada e que acabou se alastrando com os ventos e a vegetação seca pela estiagem. O desconforto causado pela fumaça é sentido em diversos pontos da cidade, mas a situação fica ainda mais dramática para os moradores de regiões próximas à queima.

Francisca Ferreira, que mora no Fragata, perto do local das chamas, relata estar enfrentando dificuldade para respirar por causa da fumaça. "Para dormir foi horrível, aquele fedor de fumaça dentro de casa e a garganta seca", diz. A fumaça causa transtorno até mesmo para atividades domésticas mais simples. Ana, filha de Francisca, reclama que o cheiro da fumaça impregnou até nas roupas. "Lava uma roupa, recolhe, e em vez de estar o cheiro do amaciante, está o cheiro da fumaça."

Para quem tem problemas respiratórios, o problema é ainda maior. Também moradora da região oeste da cidade, Marisa Oliveira sofre de rinite e relata ter sentido com bastante intensidade o desconforto causado pela nuvem gerada pela queima da vegetação. "Era uma fumaça densa e para quem tem problema de rinite, de sinusite, essas coisas, complica mais", afirma. "O ar não vinha, a garganta arranhando, o olho lacrimejando", descreve Marisa, que teve que apelar para medicação para aliviar os sintomas.

Hidratação ajuda

A pneumologista e professora da UFPel Silvia Elaine Macedo explica que os sintomas mais comuns relacionados à inalação da fumaça incluem coceira no nariz, coriza, lacrimejamento dos olhos e irritação na garganta, que são ainda mais incômodos para pessoas com doenças respiratórias.

"Quem tem rinite, bronquite, asma, costuma sofrer mais porque essas pessoas têm uma via aérea capaz de responder de forma mais exacerbada quando qualquer irritação é imposta", diz. "Essa exposição, para pessoas que têm condições crônicas como bronquite e asma, é capaz de desencadear crise da doença que poderá levar a falta de ar, chiado no peito. Para quem não tem essas condições, o que predomina são os sintomas irritativos", completa.

Em casos mais graves e crises de doenças respiratórias, a especialista diz que é preciso buscar atendimento de emergência. Em caso de falta de ar, sobretudo, o indicado é buscar um Pronto Atendimento o mais rápido possível.

Ainda conforme Silvia, não existe um remédio para evitar os sintomas. Segundo ela, o ideal é se afastar da fumaça e, se necessário, usar um antialérgico. "Nem dá pra dizer pra manter o ambiente arejado quando a pessoa vai abrir sua janela e vai ser invadido pela fumaça. Então não tem um tratamento específico. A hidratação é uma forma de limpar secreções, limpar a via aérea, mas fora isso não tem nada a ser feito."

Onde buscar atendimento

A Prefeitura de Pelotas emitiu nota orientando a população sobre o atendimento médico na rede pública em caso de sintomas fortes. No feriadão de Carnaval e finais de semana deve ser procurada a UPA Areal. De segunda a sexta, a partir desta quarta-feira, a população pode procurar atendimento nas UBSs.

Bombeiros continuam combatendo as chamas

O tenente do Corpo de Bombeiros Gilberto Alves diz que as equipes continuam atuando no local. De acordo com ele, houve focos de incêndio em pontos mais distantes, onde só era possível chegar a pé. A corporação estima que em torno de 400 hectares foram atingidos pelas chamas.

"Agora [segunda] a gente tem uma situação mais tranquila, até pela direção do vento que está soprando no sentido contrário à área urbana da cidade", explica. O bombeiro cita, no entanto, que no domingo o vento soprava em direção a Capão do Leão, mas durante a noite acabou virando e fazendo com que a manhã de segunda tivesse Pelotas novamente encoberta pela fumaça.

Segundo o tenente, na segunda-feira não havia mais focos de incêndio no local. No entanto, os Bombeiros dizem que irão permanecer no local até a extinção completa da fumaça. A expectativa é que pudesse haver chuva para auxiliar no fim do problema.

Sobre a origem do fogo que deu início ao transorno, Alves argumenta que, apesar de as chamas terem surgido por ação humana, não é possível afirmar que teve origem criminosa. Ele diz terem sido colhidas evidências para apurar os possíveis responsáveis pelo incêndio.